Zico e Márcio recordam jogo histórico para o São Bento (Foto: Rafaela Gonçalves / GLOBOESPORTE.COM)
O principal desejo da maioria dos goleiros de futebol é o de apagar da memória todos os gols tomados. Mas tem alguns gols que são considerados “especiais” e, por isso, alguns arqueiros não querem esquecê-los de forma alguma e - acreditem - eles até se orgulham de tê-los tomado.
Um exemplo é o ex-goleiro Márcio, que defendeu as cores do São Bento nas décadas de 70 e 80. Ele levou dois gols de Zico na derrota do time de Sorocaba para o Flamengo por 4 a 0, em jogo válido pelo Brasileirão de 1979. A partida realizada no Maracanã é um dos momentos marcantes da história do clube, que hoje disputa a terceira divisão do Campeonato Paulista.
Naquela época os jogadores não tinham o costume de “tietar” os atletas da equipe adversária - por mais admiração que tivessem por eles. E foi por isso que Márcio não fez com Zico o que hoje é comum ser visto eventualmente em algumas partidas: a troca de camisas, as conversas e até mesmo os pedidos de autógrafos.
Três décadas depois do ocorrido, Márcio ainda lamenta não ter feito nada disso com um de seus grandes ídolos, por isso ficou feliz da vida com a oportunidade de um reencontro. Que enfim aconteceu nesta quinta-feira: Zico foi a Votorantim, cidade vizinha de Sorocaba, para anunciar uma parceria com a prefeitura para a abertura na cidade do projeto “Zico 10”, que atende crianças carentes com aulas de futebol.
- Eu esperei 33 anos por esse momento, por essa conversa. Estou emocionado, parece mentira - disse Márcio, que não quis perder mais uma chance.
Durante a coletiva, a reportagem do GLOBOESPORTE.COM perguntou ao Galinho se ele se lembrava daquela partida, e contou que o goleiro do São Bento na ocasião estava na sala. O eterno craque do Flamengo, muito simpático, afirmou lembrar-se de tudo que aconteceu naquele dia 2 de dezembro de 1979.
- Claro que lembro. Foi a única vez que eu joguei contra o São Bento. Eu me lembro que naquele dia teve uma falta e a torcida começou a gritar pelo meu nome. Mas o Reinaldo (atacante) queria bater de qualquer maneira. Eu virei e disse para ele: “Você está vendo essa torcida? Você tem noção do que vai ser a pressão se você errar esse gol?”. Então falei para ele meter uma bica no meio do gol para o goleiro espalmar, porque no rebote, eu iria marcar. E não deu outra: fiz o gol de cabeça – relembrou Zico.
Após a declaração, o ex-goleiro se levantou e foi em direção ao craque. Os dois se abraçaram, tiraram fotos e Márcio ainda mostrou recortes de jornais da época.
- É motivo de orgulho dizer que já joguei contra o Zico e que até levei gols dele. Mas eu também fui bem, fiz boas defesas. Foi o jogo da minha vida.
Além de Zico, os atacante Reinaldo e Cláudio Adão também marcaram a favor do Mengão. No Brasileirão mais inchado de todos os tempos, que contou com 94 clubes, o jogo valeu por um quadrangular, disputado em turno único, que classificava apenas o campeão para as semifinais.
A vitória sobre o Bentão de nada adiantou: o Flamengo ainda venceu o Comercial, em Ribeirão Preto, mas acabou derrotado pelo Palmeiras por 4 a 1, no Maracanã, e a vaga entre os quatro melhores ficou com o Verdão - que, na semifinal, seria batido pelo Inter, o futuro campeão. Aquele time do Mengão, porém, era a base da equipe que seria campeã brasileira em 1980 e da Libertadores e do Mundial, em 1981.
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