Pesquisar este blog

VISUALIZAÇÕES

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Moradores de área invadida são levados para abrigo improvisado

Se por um lado a polícia considera finalizada a operação que em 40 minutos tomou o controle da área invadida conhecida como Pinheirinho neste domingo (22) em São José dos Campos, interior de São Paulo, por outro a prefeitura local tem agora pela frente o desafio de encontrar um destino para os quase 7 mil moradores da área agora desocupada. O G1 esteve nos dois galpões, improvisados e com chão de terra batida, onde muitos desses moradores foram acomodados sem colchões, cobertores e estrutura de banheiros para a higiene.


Aos 89 anos, o aposentado Antônio Candido da Silva morou em Pinheirinho por 8 anos. Neste domingo, ele se preparava para passar a noite no chão enrolado a uma lona com a esposa Eni Vieira da Silva, de 57 anos.
“Eu nunca em minha vida passei a noite assim, ao relento. Agora veja a minha situação”, diz Eni.
O cozinheiro José Silva Santos também improvisava um espaço em galpão de chão batido. Ele disse que precisou sair correndo e, agora, não sabe como fazer para pegar as roupas da esposa Eva da Silva e do bebê de 1 ano que eles têm.
"Eu fiquei com medo. Os caras [a polícia] chegaram mandando a gente sair e só deu para pegar os documentos e o uniforme do meu trabalho para amanhã [segunda-feira, 23]’. Santos conta que deixou a porta aberta a pedido dos policiais. “Comprei uma geladeira nova. Imagina se me roubam?”, pergunta.
Os moradores do Pinheirinho disseram ter sido surpreendidos pela ação da polícia, que entrou na área invadida há 8 anos às 6h da manhã. Os primeiros moradores a serem retirados do local reclamam que de não tiveram tempo para arrumar os pertences.


"Eu não tive tempo para nada. As crianças do meu vizinho ficaram com medo do helicóptero e eu decidi tirar todo mundo do Pinheiro. Quando voltei para pegar minhas coisas, já não me deixaram entrar. Estou só com a roupa do corpo e sem documento. Não deu nem para pegar o meu crachá para trabalhar amanhã”, diz a operadora de telemarketing Janaína as Silva.

A dona de casa Benedita do Nascimento também demonstrava preocupação com o que deixou para trás. “É tudo o que eu tenho. Já arrumei uma garagem de uma amiga emprestada. Vou levar minhas coisas para lá assim que liberarem minha entrada.”
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da prefeitura disse que iria disponibilizar abrigos com infraestrutura adequada para os desalojados. Não informou, porém, uma lista desses locais. Segundo a assessoria de imprensa, a Prefeitura, por hora, manterá esses locais em sigilo por motivos de segurança.

A prefeitura afirmou que, até as 14h30 deste domingo, assistentes sociais atenderam 235 famílias, totalizando cerca de 900 pessoas. Desse total, 120 famílias estão de mudança para outros endereços na cidade, 56 estão em abrigos temporários e 54 foram encaminhadas para alojamentos.
A administração municipal acrescentou que forneceu passagens para outras quatro famílias, que seguirão para suas cidades de origem. A nota da Prefeitura acrescenta que todos “receberam alimentação, apoio social e apoio para transporte e guarda de seus móveis e utensílios”.
Invasão
O terreno de mais de 1 milhão de metros quadrados foi invadido há 8 anos e pertence à massa falida de uma empresa do especulador Naji Nahas. No local vivem cerca de 1.600 famílias, ou perto de 5.500 pessoas, segundo o censo da prefeitura. Com o tempo, o Pinheirinho se tornou um bairro, com comércios e igrejas.
Operação
O efetivo da polícia na ação foi de 2 mil homens, recrutados de cidades vizinhas e de São Paulo. Cerca de 220 veículos, um carro blindado e dois helicópteros Águia, além de 40 cães e 100 cavalos, também participaram da operação. Segundo o capitão Baraldo, os policiais irão permanecer na região até segunda-feira (23), fazendo a segurança, para evitar uma possível nova invasão.


Os manifestantes chegaram a ocupar por cerca de 30 minutos a pista sentido Rio da Via Dutra, em São José dos Campos, mas o trecho já está liberado. De acordo com a NovaDutra, concessionária que administra a rodovia, o protesto causou lentidão do km 133 ao km 162, em São José dos Campos e em Jacareí.
Em entrevista coletiva realizada durante a tarde, porta-vozes da corporação informaram que a PM chegou por volta das 6h à região e que às 6h40 já dominava todos os pontos de entrada do Pinheirinho, que abrigava cerca de 1,6 mil famílias.
Presos
Ao todo, 18 pessoas foram presas na ação. Segundo a PM, todos eram moradores ou ativistas ligados a movimentos contrários à desocupação. Eles tentavam impedir o avanço das tropas com barricadas nas principais vias de acesso da área. Os presos foram levados ao 3º Distrito Policial de São José dos Campos.
A polícia também informou que localizou algumas armas brancas dentro de casas no Pinheirinho. “Foram lanças improvisadas, como facas amarradas em pedaços de pau, paus com pregos na ponta e coisas do tipo”, disse o coronel César Augusto Morelli, que comanda o policiamento de choque da PM.
Conflito entre juízes
Uma oficial de Justiça foi até a ocupação, por volta das 11h, entregar uma decisão do juiz federal de plantão Samuel de Castro Barbosa Melo, que suspende a ação. A ordem era direcionada aos comandos da Polícia Militar, da Polícia Civil e da Guarda Municipal. Segundo a oficial, quem recebeu o documento foi o juiz estadual Rodrigo Capez, que acompanha a reintegração.
Ainda de acordo com a oficial de Justiça, Capez disse que há um "conflito de competências" e que não vai acatar a ordem da Justiça Federal. Ele manteve a desocupação do assentamento.
Na noite deste domingo, o Tribunal de Justiça de São Paulo divulgou a ordem proferida pelo presidente do TJ, desembargador Ivan Ricardo Garisio Sartori, a respeito do caso Pinheirinho. Segundo ele, a decisão da 6ª Vara Cível de São José dos Campos que determinava o cumprimento da reintegração de posse “somente pode ser suspensa por ordem deste Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal”.
“Então, o ato judicial concorrente do Tribunal Regional Federal não tem qualquer efeito para esta Justiça do Estado de São Paulo, que é absolutamente independente e não tem relação com aquele outro ramo do Judiciário”, disse o desembargador.
Ferido e socorridos
De acordo com a Prefeitura de São José, um homem foi baleado em confronto com a Guarda Civil no momento em que tentava invadir um ginásio poliesportivo no Campo dos Alemães. Ele passou por cirurgia no Hospital Municipal e seu quadro era considerado estável. O centro é onde tendas foram montadas para que o moradores sejam encaminhados ao sair das casas.
Ainda de acordo com a Secretaria de Saúde, duas pessoas foram atendidas em estado de choque na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Campo dos Alemães. Elas estavam nervosas, mas sem ferimentos.
* (Com informações do VNews)










Nenhum comentário: