De nada adiantou dormir de rede ou ligar o ventilador. O calor não tem dado sossego às noites de Júlio César Braga, 51, morador do Jacarecanga. “O jeito é ficar se levantando para tomar banho”, descreve Júlio, que ainda precisa lidar com outro inimigo comum de fim de ano: as muriçocas.
O sol de dezembro não tem pena de quem se expõe - nem dos que procuram a sombra. De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o último mês do ano acumula a maior média de temperatura na Capital em 2011: 29,2° C. Isso representa temperatura 1,5° C mais alta do que a média registrada no ano: 27,7° C. E não é difícil ver os relógios da cidade que mostram a temperatura exibir a marca dos 32°C.
Quentura na cabeça dos outros é refresco para o vendedor de água de coco Nelson Gimenes, 62. Na tarde de ontem, ele somava 50 cocos vendidos na praça Murilo Borges, a praça do BNB. “Os clientes têm reclamado do calor. Eu acho é bom. E tome água!”, diverte-se.
Seguindo na rua Floriano Peixoto, os consumidores de fim de ano disputam o lado da sombra no aperto da calçada, mas o remédio é pouco para o suor. Oásis mesmo é chegar às lojas com ventiladores de teto do tipo “tufão”. “Tem gente que dá ventilador de amigo secreto”, conta a vendedora Equivânia Dantas, que oferece modelos a partir de R$ 69.
Boa saída também têm tido os modelos “split” de ar-condicionado. “Reduziu o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e está saindo bastante”, detalha o vendedor Rafael Carneiro.
Mais à frente, nem a sombra da praça do Ferreira apaziguou o calor de Antonella Lopes, de um mês e quinze dias. A mãe Denise Lopes, 27, precisou banhar a cabeça da criança com água. “Só mesmo dando esse ‘banhozinho’. Eu procuro andar sempre com alguma coisa protegendo do sol”, ensina Denise.
Falta de ventos
O calor que incomoda Antonella, perturba o sono de Júlio César e esquenta a cabeça de muita gente tem explicação. O meteorologista da Funceme Paulo Santos diz que historicamente os últimos meses do ano são mais quentes, por se seguirem ao fim da quadra chuvosa. “Com a diminuição dos ventos, a sensação térmica aumenta”, acrescenta.
Santos lembra que a última frente fria com atuação no Estado foi registrada no fim de novembro, com chuvas fortes na região do Cariri.
Segundo o meteorologista, o esfriamento das águas do Pacífico aponta para uma quadra chuvosa “dentro da média normal de chuvas” para 2012. Ele ressalta, porém, que é preciso aguardar reunião climática a ser realizada em janeiro para definir como será o comportamento do oceano Atlântico para fechar o prognóstico.
Enquanto a chuva não vem, só resta à artesã Josélia Nascimento, 40, o incômodo de morar de frente para o lado do sol. “De noite, só não dá para dormir de portas abertas por causa dos ladrões”, lamenta.
ENTENDA A NOTÍCIA
A falta de ventos é a maior responsável pela elevação da sensação térmica nesse período do ano. Dezembro deste ano registrou, em média, temperatura 1,5º C mais alta do que a média do ano. Mais do que nunca, proteger a pele do sol e beber muito líquido são medidas essenciais.
SAIBA MAIS
O aumento do calor
no fim do ano é acompanhado por maior consumo de energia. Os números de dezembro ainda não estão fechados, mas novembro deste ano registou aumento de 2,3% de consumo em comparação ao ano passado, segundo dados da Companhia Energética do Ceará (Coelce). As maiores altas foram registradas nos setores residencial e comercial, com 5,2% e 4,1% de aumento respectivamente. O consumo total do mês foi de 788 GWh (gigawatts-hora).
Nenhum comentário:
Postar um comentário