Elaine do Tyreso (Foto: Divulgação / Site Oficial)
Se Marta pudesse fazer uma vontade de Elaine, assinaria contrato com o Tyreso para que ambas joguem juntas no Campeonato Sueco. Mas se Elaine tivesse que fazer uma vontade de Marta, precisaria deixar de lado os planos de encerrar a carreira em dezembro. A craque não gostou nada da notícia e está tentando fazer a amiga e meia da seleção brasileira mudar de ideia.
- A gente se fala sempre. Eu digo para ela vir para cá, estou na torcida. Mas ela também fica falando que eu não vou parar de jeito nenhum. Ela diz: "Que isso, ficou maluca? Forte desse jeito, vai jogar até os 35 pelo menos" - brincou Elaine, de 29 anos, dando risada.
Apesar dos apelos de Marta, a baiana Elaine Estrela de Moura já vem planejando a aposentadoria há algum tempo. Desde que acertou com o Tyreso em 2010 e pediu ao clube que conseguisse um trabalho para ela fora do futebol. Passou a dividir-se entre os campos e o escritório da Sjobefalsforbundet, nome complicado da Associação Sueca dos Trabalhadores da Marinha Mercante. Também decidiu que é em Estocolmo que quer ficar quando parar de jogar. Apesar da saudade da família, do Carnaval e da nevasca do lado de fora.
- Essa época é complicada, muita neve aqui e a gente vendo as fotos do pessoal aproveitando a festa. Já são oito anos sem passar o Carnaval no Brasil. Mas eu não me arrependo. Foi o que escolhi fazer. Gosto da Suécia. No início foi difícil, mas me adaptei bem e é aqui que quero ficar. Quero continuar com o trabalho fora do futebol, planejar meu futuro, mas também penso em fazer um curso de treinador. Ainda são poucas mulheres treinando times femininos - disse.
Elaine do Tyreso durante entrevista (Foto: Rafael Maranhão / GLOBOESPORTE.COM)
Antes de parar, Elaine quer incluir mais uma medalha olímpica ao lado da prata conquistada em Atenas-2004, guardada na casa do pai Armando, em Salvador. Lesionada, a meia não participou dos dois últimos grandes torneios disputados pela seleção: os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e a Copa do Mundo, ano passado, na Alemanha. No Mundial, ela ainda fez parte da delegação, mas sem condições de entrar em campo por causa de uma grave lesão muscular. Elaine sofreu do lado de fora assistindo à derrota brasileira nos pênaltis contra os Estados Unidos, nas quartas de final.
- Foi duro demais, terrível. É claro que a gente não esperava. Do lado de fora, sem poder ajudar, é pior ainda. Mas eu vou lutar muito para estar em Londres. Eu quero ajudar a seleção. Claro que também quero ajudar o meu clube, mas a seleção é especial. Representa tudo para mim, minha chance de vencer no futebol - afirmou.
A história de superação de Elaine tem muitas semelhanças com a de outras jogadoras de futebol no Brasil. Ela cresceu numa família pobre, no bairro de Cajazeira VI, em Salvador. Começou no futebol jogando em times de meninos, escondida dos pais. Levou surra, mas não desistiu. O primeiro clube foi o Racing, time do bairro dela. De lá, seguiu para o Galícia, equipe tradicional cujo departamento de futebol feminino transferiu-se para São Francisco do Conde, na Grande Salvador. Elaine mantém contato com o clube até hoje.
Elaine do Tyreso durante entrevista
(Foto: Rafael Cavalieri / GLOBOESPORTE.COM)
- Vou sempre lá nas férias. Às vezes até jogo para ajudar o time. São Francisco do Conde faz um grande trabalho. É um clube que merece apoio, que representa a chance de muitas meninas realizarem o sonho de jogar futebol, de fazerem como eu fiz. Meus pais sempre foram contra, mas eu dizia: "um dia eu vou chegar na seleção, vou virar jogadora profissional e vencer na vida". É assim com muitas meninas também. Mas hoje meus pais são meus maiores fãs -observou.
Elaine passou ainda pela Ferroviária-SP e chegou à Suécia em 2004, após um amistoso da seleção contra o Umea, onde Marta já jogava. No clube da cidade gelada do norte da Suécia, as duas atuaram juntas por quatro temporadas e foram campeãs em todas elas. Também foram adversárias nos Estados Unidos, cuja liga profissional (WPS) foi suspensa em janeiro. Agora, tem a chance de se reencontrar. Mas o Tyreso tem um forte concorrente.
- O Goteborg está na Liga dos Campeões, é claro que isso conta muito. Quem não quer jogar um torneio desses? Mas sei que a Marta vai escolher o melhor para ela.
Atuar ao lado da amiga craque num clube brasileiro nunca esteve nos planos de Elaine. Vice-campeã mundial e medalhista olímpica, ela vai parar de jogar sem ver o esporte que pratica do jeito que gostaria.
- Não temos uma liga, a maioria dos clubes não investe no futebol feminino. De que adianta fazer um time forte que goleia todo mundo, como foi o Santos, em vez de ter um campeonato organizado, equilibrado? Eu vi uma entrevista da Cristiane em que ela disse que não achava que o resultado ruim na Copa ia fazer diferença para o futebol feminino no Brasil. Quando nós fomos bem, chegamos na final, ganhamos medalha, nada mudou. Nem os resultados da seleção influenciam.
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