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sábado, 31 de março de 2012

Do gramado para o ringue: baianos deixam futebol pelo sucesso no boxe




Everton Lopes, Campeão Mundial de Boxe 64kg (Foto: Reuters)
Campeão mundial, Everton Lopes fez testes nas divisões de base do Bahia e do Vitória (Foto: Reuters)


Chuteira, meião, caneleira e uniforme de lado. Os requisitos básicos para entrar em campo já não servem. O gramado verde com a arquibancada lotada não é mais o sonho. Entram em cena a bota, luva e os protetores bucal e de cabeça. O futebol foi deixado para trás, e o ringue agora é o objetivo principal.
A migração dos campos de futebol para o boxe é inusitada. Ainda mais quando se torna a esperança de medalhas de um país na segunda opção. E foi este o caminho percorrido por três dos principais boxeadores brasileiros que poderão brilhar com as cores do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres.
Everton Lopes, de 23 anos, Robenilson de Jesus, 24, e Adriana Araújo, 30, por pouco não enveredaram por outros caminhos. E no mesmo local. Os três, antes de decidirem se dedicar aos jabs, diretos e cruzados, arriscaram chutes e dribles na Toca do Leão.
Hoje sob o comando de Luiz Dórea, o trio até pouco tempo tentava a sorte com a camisa do Vitória. Sem sucesso no futebol, tentarão ir para as Olimpíadas com grandes chances de medalhas para o Brasil.


No caso de Everton Lopes, o principal nome brasileiro na categoria, não deu nem para sentir o gosto de ser jogador profissional. Após ser reprovado em um teste no Bahia, o pugilista tentou por duas vezes entrar para as divisões de base do Vitória. Sem sucesso.
- Ele ia bem nos testes, mas não passava. Foi uma decepção muito grande para ele, e por isso, desistiu do futebol. Eu o acompanhava sempre e vi como ficou, por isso apoiei a mudança do esporte – contou a mãe de Everton Lopes, Dona Cláudia.


Coincidentemente, o treinador de Lopes, Luiz Carlos Dórea, também trilhou o mesmo caminho. Antes de ser campeão mundial de boxe, em 1988, e de se tornar referência como treinador – ajudou a consagrar o pugilista Acelino Popó Freitas e o campeão do UFC Cigano – Dórea também arriscou dribles e chutes.
- Antes do boxe, eu fiz teste no infantil do Vitória. O boxe era o que eu amava, mas minha mãe não deixava lutar – lembra o treinador.


Foi também por causa da mãe que Robenilson de Jesus deixou os gramados. Após três anos com a camisa rubro-negra, o meia-direita decidiu pendurar as chuteiras.
- Tinha qualidade, mas minha mãe não deixava viajar para os campeonatos. Ela ficava com medo das viagens. Aí eu desanimei e saí – conta o pugilista.
Com as chuteiras de lado, o meia encontrou o boxe por acaso. Um amigo era dono de uma academia, e ele decidiu experimentar o esporte. Alguns meses foram suficientes para entender que a nova escolha estava mais do que certa.
- Lembro que com três meses eu fiz a minha primeira luta. Ganhei, me empolguei e estou aqui até hoje. E, por incrível que pareça, minha não reclamava quando eu comecei a lutar – se diverte ao lembrar.

No caso de Adriana Araújo, a escolha dos dois esportes foi mais complicada. Considerada uma “moleca” desde pequena, ela cresceu jogando os babas – como é chamada a pelada na Bahia – nas ruas de Salvador.
- Com 16 anos, eu fui jogar nas divisões de base do Vitória. Mas com 17 anos eu tive que sair para trabalhar. Não deu nem tempo de disputar competições. Fiquei só um ano e meio lá – lamenta a baiana.
Com a parada no esporte, Adriana lembra que ganhou uns quilinhos a mais. A fórmula encontrada para voltar a estar em forma foi praticar o boxe. Segundo ela, há pouco o que se aproveitar na migração de uma modalidade para a outra.

Se, por um lado a pugilista diz que não há muita relação entre o futebol e o boxe, por outro Adriana sentiu na pele algo comum aos dois esportes.
- Tanto no futebol quanto no boxe eu sofri preconceito por ser mulher – revela.
A pressão contra a prática dos dois esportes aconteceu até mesmo dentro de casa.
- No futebol, como eu era menor, minha mãe me proibia um pouco, até para não ficar até tarde na rua. Ela ia me buscar na quadra e mandava voltar para casa. No boxe, como machucava a boca, essas coisas, ela falava que não era coisa de mulher Só passou a me apoiar quando viu meus resultados – conta Adriana.

Dos três “ex-jogadores”, apenas Everton Lopes tem vaga garantida em Londres. Campeão mundial dos meio-médios-ligeiros, o pugilista é favorito para levar a medalha de ouro também nos Jogos Olímpicos.

Adriana e Robenilson ainda não carimbaram os passaportes. Os dois vão disputar o pré-olímpico em maio, no Rio de Janeiro, e, de acordo com Luiz Dórea, têm grandes chances de conquistarem suas respectivas vagas.
A chance de disputar os Jogos Olímpicos é encarada como uma grande oportunidade pelos três. O boxe hoje é a vida dos pugilistas, mas o futebol não ficou esquecido.
- A gente faz um aquecimento com a bola e o pessoal já virou pra mim e falou: ‘Rapaz, ao invés de jogar futebol você vem ficar levando porrada?’ – gaba-se aos risos, Robenilson de Jesus.



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