
Brittney Reese tenta buscar o ouro nos Jogos Olímpicos de Londres (Foto: Reuters)
Maior potência olímpica de todos, os Estados Unidos estão cheios de campeões na sua história . Mas apenas um megaprojeto econômico pode evitar que o país não perca terreno. Em 2008, o Comitê Olímpico Americano arrecadou mais de R$ 450 milhões e o país conquistou 110 medalhas nos Jogos Olímpicos de Pequim.
Um mês depois da competição realizada na China, o país conheceu uma das maiores crises econômicas da história. Em 2009, a receita do Comitê caiu 56%, causando um prejuízo de R$ 79 milhões. Com a crise, o valor investido no esporte diminuiu drasticamente e ameaça, principalmente, os atletas da base. O economista Michael Leeds, da Universidade de Temple, na Filadélfia, explica o motivo da crise.
- O que aconteceu foi um aumento repentino e dramático dos gastos, particularmente em 2008, quando vimos uma quebra do mercado de crédito. Nós tínhamos uma bolha no início dos anos 2000. Com a ganância, a bolha se tornou a emoção dominante. E o que vemos agora é o ranço daquilo – disse em entrevista ao “SporTV Repórter”.
A crise gerou um plano de corte de gastos, anunciado pelo presidente Barack Obama. O governo americano quer poupar mais de R$ 7 trilhões nos próximos dez anos.
Atual campeã mundial de salto em distância, a americana Brittney Reese é uma das favoritas à medalha de ouro em Londres. Com apenas 21 anos, Reese quase foi prejudicada pela crise, mas sabe que os mais jovens terão um caminho mais difícil pela frente.
- As coisas melhoraram para mim, porque sou uma campeã do mundo, mas estão mais duras para quem veio depois de mim. A economia não está como estava quando eu surgi. Não há muito dinheiro entrando, mas tenho certeza de que todos sabem que, para ser profissional, você depende dos resultados. Para conseguir o dinheiro, você tem que conseguir os resultados.
Brittney estava no lugar certo, na hora certa. Com a crise, a filosofia esportiva continuará a mesma. Mas as próximas gerações de atletas têm um grande desafio a enfrentar: construir campeões com menos dinheiro.
Foi na escola que a crise encontrou o esporte. O grande diferencial olímpico americano, a oferta de benefícios e bolsas de estudos para jovens atletas, está ameaçado. Em muitas universidades dos Estados Unidos, quem quiser fazer parte do time já tem que pagar para jogar.
- No nível escolar, você tem pressões significativas nos orçamentos locais, nos orçamentos escolares. Receitas de impostos mais baixas, suporte do estado chegando mais baixo. Penso que os orçamentos escolares estarão sob severa pressão e todas as atividades chamadas não essenciais estarão sob pressão severa. E o esporte, claramente, é uma delas – explica o economista Michael Leeds.
Desde 2010, a maioria das escolas passou a cobrar taxas dos alunos, que vão de R$ 160 a R$ 1.550 por ano. Esta foi a única forma encontrada para tapar um rombo de R$ 3,2 milhões, cortados repentinamente do orçamento.
Joe Walker, técnico da campeã mundial Brittney Reese e treinador universitário, acredita que a recessão não vai acabar com o esporte no país, mas que deve afetar as escolas de menor porte.
- Agora, na minha situação, ainda não me afetou. Mas afetou algumas escolas menores de certa forma. Eu odeio ver isso acontecendo, sem dúvida. Porque uma das coisas que temos de bom é que somos fortes economicamente. Eu tenho todas as ferramentas de que preciso para trabalhar aqui. Mas também já trabalhei em outras situações, já fui treinador de escolas menores quando comecei. Não tínhamos muito e mesmo assim tínhamos bons atletas. Acho que encontraremos um jeito de sobreviver, mas seria melhor não passar por isso.
Os Estados Unidos são a maior potência olímpica da era moderna. Até os Jogos de Pequim, havia 12 anos que os Estados Unidos não eram superados no quadro geral de medalhas. Desde que os países da antiga União Soviética decidiram competir independentemente. Durante três Olimpíadas consecutivas, a máquina americana fabricou diversos ídolos.
A supremacia esportiva da nação mais poderosa do mundo nunca mais tinha sido abalada. Até que a China apareceu. O país mais populoso do planeta se tornou também o maior rival econômico e preparou seus atletas para uma 'guerra política'. Desde 2008, quando ficou em segundo lugar no quadro de medalhas (36 ouros contra 51 dos chineses), a comunidade olímpica norte-americana trabalhou e continua trabalhando muito para virar o jogo contra a China.
- Acho que soou um alarme. Uma situação para ficarmos alerta de que o mundo está chegando mais perto. Nós somos um país influente, então imagino que tenhamos algumas vantagens, como na preparação dos nossos atletas, que vocês talvez não tenham no Brasil ou em outros países. Mais e mais atletas estão sendo expostos agora a situações impróprias para realizar o que querem realizar. Há países como a China emergindo. Mas há ciclos. Se você voltar no tempo, pensando que as Olimpíadas serão em Londres, os atletas da Grã-Bretanha eram fortes nas médias distâncias e agora não são mais tão fortes – explica o treinador de atletismo Joe Walker.
Há quatro anos, as Olimpíadas de Pequim atraíram a maior audiência global da história da televisão. No total, 60% da população mundial, cerca de 4,7 bilhões de pessoas, assistiram aos jogos. Só nos Estados Unidos, foram 211 milhões de telespectadores, que tornou evento em o mais assistido da televisão americana em todos os tempos. E a projeção para Londres é ainda maior. Pode ser a última chance de ver o nadador Michael Phelps e o jogador de basquete Kobe Bryant disputar uma Olimpíada.
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